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Água com hortelã-pimenta trata inflamações no útero, quistos e miomas?

25 Jun 2023 - 08:30
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Água com hortelã-pimenta trata inflamações no útero, quistos e miomas?

Em vários vídeos partilhados no TikTok, apresenta-se a hortelã-pimenta como “o melhor remédio natural no tratamento de inflamações no útero, quistos e miomas”. A receita partilhada é quase sempre a mesma: juntar folhas de hortelã-pimenta com água e triturar tudo. 

Num dos vídeos alega-se que “esta planta ajuda a combater todas as inflamações do útero” e “tem o poder de fazer uma limpeza” neste órgão. Noutro post, aconselha-se ingerir esta mistura durante “15 dias seguidos para melhores resultados”. Mas é verdade que a hortelã-pimenta combate inflamações no útero? O que diz a evidência científica?

É verdade que a água com hortelã-pimenta trata inflamações no útero?

Em declarações ao Viral, a ginecologista Rosália Cubal adianta que não existe evidência científica de que consumir água com hortelã-pimenta trate inflamações no útero, quistos e miomas.

Por outro lado, acrescenta a ginecologista, o consumo deste preparado não trará, comprovadamente, benefícios ao útero, mas também não irá, à partida, ser prejudicial à saúde do órgão.

Existe alguma (muito pouca) evidência científica publicada sobre a hortelã-pimenta, mas nenhum estudo indica que esta planta tenha algum poder no tratamento de inflamações do útero.

Por exemplo, uma revisão sobre os “potenciais benefícios para a saúde do chá de hortelã-pimenta” concluiu que “os estudos em humanos sobre a folha de hortelã-pimenta são limitados e não existem ensaios clínicos sobre o chá de hortelã-pimenta”.

Para mais, “as propriedades antimicrobianas e antivirais significativas, fortes ações antioxidantes e antitumorais e algum potencial antialérgico” da hortelã-pimenta foram apenas demonstrados em estudos in vitro.

Além disso, estudos em modelos animais demonstraram “um efeito de relaxamento nos tecidos gastrointestinais, efeitos analgésicos e anestésicos no sistema nervoso central e periférico, ações imunomoduladoras e potencial quimiopreventivo”. 

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No entanto, tanto os resultados in vitro como as conclusões de estudos feitos em modelos animais não podem ser extrapolados para humanos, sendo necessária mais investigação.

Noutro estudo feito com 127 mulheres com cólica menstrual dolorosa verificou-se que “a dor e a sua gravidade e todos os sinais e sintomas clínicos diminuíram após a ingestão do extrato de hortelã-pimenta”. 

Contudo, mais uma vez, nenhum dos estudos mencionados mostra que a água com hortelã-pimenta tenha a capacidade de tratar inflamações no útero, miomas ou quistos.

Como tratar inflamações do útero?

As inflamações no útero, nomeadamente a doença inflamatória pélvica (DIP), podem ter várias causas. Por isso, sublinha Rosália Cubal, “o tratamento depende da causa da inflamação, sendo possível consoante a causa, usar um anti-inflamatório ou antibiótico”.

De acordo com um texto publicado no site dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, é necessário ter em conta que, no caso da DIP, “o tratamento com antibióticos não reverte as cicatrizes causadas pela infeção”.

Por isso, “é fundamental que uma mulher receba cuidados imediatamente, se tiver dores pélvicas ou outros sintomas de DIP”, acrescenta-se no mesmo texto.

“Quanto mais tempo uma mulher adiar o tratamento da doença inflamatória pélvica, maior é a probabilidade de se tornar infértil ou de ter uma futura gravidez ectópica devido a danos nas trompas de falópio”, alerta o CDC.

Em termos de prevenção, o Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) revela que “a principal causa da DIP é uma infeção sexualmente transmissível”.

O NHS explica, no mesmo texto, que as bactérias causadoras destas doenças, “por norma, só infetam o colo do útero, onde podem ser facilmente tratadas com antibióticos”. Contudo, se não houver um tratamento adequado, podem passar para os órgãos reprodutores femininos. A clamídia, por exemplo, “pode evoluir para DIP no espaço de um ano”.

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Por esse motivo, a ginecologista ouvida pelo Viral refere como fundamental “o cuidado com as doenças de transmissão sexual”.

Qual o tratamento para quistos e miomas?

Como se clarifica num texto do Escritório da Saúde da Mulher (OWH) do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos da América, “os miomas são tumores musculares que crescem na parede do útero”, mas “são quase sempre benignos”. 

Segundo Rosália Cubal, “a recomendação é fazer vigilância dos quistos e dos miomas” e o tratamento “depende das dimensões” e se as mulheres apresentam sintomas ou não. 

No caso dos miomas de grandes dimensões, “se a paciente não pretender fazer cirurgia”, “o tratamento pode ser com agonista de GNRH – fármaco que ajuda a diminuir o tamanho do mioma -, ou embolização da artéria uterina, se não resolver”, refere. 

No texto do OWH adianta-se que “as mulheres que apresentam sintomas têm, com frequência, dificuldade em viver com os miomas”, pois “algumas têm dores e hemorragias menstruais abundantes”. 

Conforme se explica um texto informativo do NHS, existem medicamentos que podem “ajudar a aliviar os sintomas”.

Na visão da Sociedade Portuguesa Ginecologia (SPG), expressada através do último Consenso Nacional sobre Miomas Uterinos, o tratamento deverá ser individualizado e ter em conta aspetos como: “a gravidade da sintomatologia”, “o tamanho e a localização das lesões”, “a idade”, “o desejo de fertilidade futura” e “as preferências individuais da mulher”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Categorias:

Alimentação

Etiquetas:

Produtos naturais

25 Jun 2023 - 08:30

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